Sol, Lua e Talia, de Giambattista Basile: Parte II

Hoje estou postando a continuação do conto da Talia e dos seus babies, por Giambattista Basile. A primeira parte pode ser lida aqui, junto com as demais informações sobre o conto. Caso não tenha lido a primeira parte ainda, vai lá e lê! NO SPOILERS HERE (embora ❤ spoilers <3, mesmo que todo mundo me odeie por isso…)!

 

“A rainha, vendo que ele ficava tanto tempo longe por causa da caça, suspeitava de alguma coisa, e, percebendo que ele não fazia outra coisa senão chamar por Talia, Sol e Lua, ficou furiosa de inveja. Chamou seu secretário e lhe disse:

– Sinto muito, meu querido, mas não te convém refutar o que te peço. Se me diz por quem o rei está apaixonado te faço enriquecer, e se me esconder, te farei torturar.

O secretário por um lado estava apavorado, mas por outro estava ávido de riquezas e, esquecendo-se de ter falado de honra, de justiça ou de fidelidade ao rei, contou tudo o que ela queria saber. Assim, a rainha lhe ordenou de ir aonde estava Talia para dizer-lhe que o rei queria as crianças no palácio. Talia não ficou feliz e mandou Sol e Lua com o secretário, que os colocou nas mãos da rainha, e ela, que era mais venenosa do que uma víbora, mandou o cozinheiro descarná-los e cozinhá-los em vários molhos para fazer um jantar ao rei.

Mas o cozinheiro, por sorte, era de coração mole, e vendo aquelas duas belas criancinhas, teve pena delas, e então, depois de as enviar à sua mulher para que não houvesse problema, preparou dois cabritos ao louro segundo certa receita. Quanto o rei chegou, a rainha muito satisfeita fez pôr a mesa, e enquanto o rei comia com gosto e exclamava

– Nossa! Como isso é bom! Que saboroso este outro! – ela lhe retrucava:
– Come, que está comendo a sua carne.

O rei teve uma certo aborrecimento e lhe disse:

– Eu sei que como minha carne, porque eu sou o rei e todos os bens são meus, porque de seu não há nada. – Em seguida, levantou-se e foi dar uma volta na campina para fazer passar a raiva. Mas para a rainha ainda não bastava o que ela havia feito, e assim ordenou a secretário de chamar Talia com a desculpa de que o rei a esperava. Talia, contente, se preparou e partiu imediatamente, cheia de desejo de ver ao rei, e não sabia que caminhava para as garras de sua inimiga. Assim que chegou em frente à rainha, esta, com expressão cruel e com voz pérfida e irônica lhe disse

– Ahá. Seja bem-vinda, senhorita mulherzinha da vida! É você a a cadelinha que tem enganado o rei, você é a trejeitosa que quer tê-lo todo para si! É de menininha porcalhona com que ele passa tanto tempo! Você chegou ao seu tribunal, porque agora eu vou dar a punição que você merece!

Talia começou a pedir desculpas, dizendo que não era sua culpa, que o rei tinha ido á sua propriedade enquanto ela estava encantada, mas a rainha não quis ouvi-la. Acendeu o grande fogo que se tinha feito preparar no pátio do palácio e deu ordem para que a colocassem para queimar. Vendo que que as coisas iam mal, Talia se ajoelhou diante da rainha e lhe disse:

– Imploro, me deixe ao menos tempo de trocar este belo vestido que estou usando.

Não por piedade, mas por lhe agradar a idéia de tomar aquele vestido adornado com ouro e pérolas, a rainha lhe disse:

– Está bem, dispa-se.

Então, Talia começou a despir-se lentamente, e a cada peça de roupa que despia, soltava um grito. Assim quando já retirara o manto, a jaqueta e a saia, no momento de retirar a roupa de baixo, deu o último grito, e a pegou e a estava colocando no fogo onde a rainha queria transformá-la em um monte de cinzas, quando chegou o rei e, encontrado-se diante daquela cena, ordenou que ninguém se movesse. Quis saber o que estava acontecendo, e quando perguntou pelas suas crianças, a rainha cruel lhe disse: – Quanto a isso não há mais remédio, porque fiz que você os comesse e que os saboreasse com gosto.

O rei enlouquecido, chorava e gritava:

– Pobres filhinhos meus, agora eu sou o seu lobo assassino. Como é possível que eu não tivesse reconhecido a sua carne que eu tanto acariciei. E você, bruxa pérfida e renegada, como pôde ser mais feroz do que os animais selvagens? Mas eu não te darei tempo para pedir perdão por seus pecados. E deu ordem para que a rainha fosse jogada no fogo que ela mesma tinha mandado preparar para Talia. Mandou queimar com ela também o secretário que foi seu cúmplice e mandou que queimassem também o cozinheiro que tinha retalhado e cozinhado seus meninos. Mas o cozinheiro colocou-se aos seus pés e disse:

– Senhor, seria o fogo a recompensa pelo serviço que lhe fiz! Assim me festeja, enquanto asso preso a um pau? É esta a boa posição que me faz ter: na grelha com a rainha? Eu esperava alguma coisa melhor por ter salvado as duas crianças, desobedecendo àquele coração de pedra que queria que você as comesse!

Ao ouvir essas palavras, o rei ficou atônito, e pensou que fosse um sonho, porque não conseguia acreditar naquilo que chegava a seus ouvidos. Em seguida, voltou-se ao cozinheiro e lhe disse:

– Se é verdade que você salvou os meus meninos, tenha certeza de que mandarei deixar de girar o espeto, e lhe darei o poder de girar o meu coração, porque quero satisfazer em tudo os seus desejos, e lhe darei um prêmio tão grande que você vai ser o homem mais feliz do mundo.

Enquanto ele dizia estas palavras, a mulher do cozinheiro, que tinha visto seu marido em perigo, trouxe Sol e Lua, e o rei os abraçou juntamente com Talia, e chorando de alegria, não conseguiu saciar- se de beijá-los e acariciá-los.

Depois de ter dado uma boa fortuna ao cozinheiro e de tê-lo nomeado principal cavaleiro do palácio, o rei se casou com Talia, que viveu sempre feliz com o marido e com os filhos, depois de ter descoberto que até dormindo se pode ter fortuna.”

 

A história da Talia chega até a ser meio macabra, mas, apesar de ser a puta do rei, ela acabou se dando bem. Parabéns, Talia! MUAHAHA.

Laís

8 comentários em “Sol, Lua e Talia, de Giambattista Basile: Parte II

  1. Parabéns Laís adorei a versão de A bela adormecida estilo moderna, barraqueira mesma. Rimos muito com a sua criatividade.

  2. Eu lí o conto original cheio de palavras complicadas bem antigo…
    E na real a ultima frase não tem nd a ver com fortuna :

    ” Aquele que tem sorte ,o bem
    mesmo dormindo obtém.”

    “Whoever is lucky, good
                          even sleeping gets. “

    1. Oi, Ana Gabriela! Tudo bem? Não vou fazer mudança alguma porque, diferente de outros, esse conto não foi traduzido por nós, do blog (dei os créditos no primeiro post!), mas valeu pela dica, não tinha chegado a ler o conto em inglês! Um beijão.

  3. Não sei bem se ele era a p*ta do rei, pra mim ela foi mais é violentada mesmo, coitada. ‘-‘

    1. Sem dúvidas foi! Consentimento morreu nesse conto. (E quase dez anos depois de fazer esse post, vejo hoje que essa frase ficou uma bosta, né?)

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