Prado Verde, de Giambattista Basile

Hoje, mais um conto do Giambattista Basile (lembram da sua Bela Adormecida?). Bom, o conto Prado Verde é, de certa forma, um pouco parecido com a história que conhecemos sobre a Cinderella: princesa apaixonada por príncipe, mas que tem irmãs invejosas, porém com um enredo completamente diferente. Deem uma conferida, não vão se arrepender.

“Uma mãe teve três filhas. E, estranhamente, aconteceu que as meninas um e dois tiveram pouca sorte. Suas esperanças e planos iam sempre por água abaixo, enquanto a número três, chamada Nella, que era tão boa quanto poderia ser, era cheia de sorte. Menina mais sorridente nunca se viu.

Quanto mais era elogiada, mais a inveja das irmãs crescia. Elas a desejavam enterrada debaixo do solo e não se contentariam com menos.

Passado algum tempo, Nella atraiu a atenção de um jovem príncipe. Logo, se tornaram amantes, encontrando-se furtivamente a cada noite que se passava. Como eles não queriam que soubessem do caso, o príncipe planejou uma rota especial que ia do seu palácio até o quarto de Nella, pelo qual ele poderia viajar: ele construiu um túnel de cristal. E, para sinalizar o seu desejo e criar o túnel, ela simplesmente tinha que jogar um pó mágico sobre o fogo.

Ele foi correndo pelo túnel, sem roupas, devo acrescentar. As irmãs de Nella, enquanto espiavam, os viram e os descobriram. Isso as deixou loucas, então elas quebraram o túnel de cristal. Como Nella o chamou naquela noite e, com o túnel em pedaços, a pele do príncipe ficou em pedaços. Era uma visão trágica.

Ele mancou de volta ao seu palácio, onde colocou-se em sua cama.

“Como o cristal do túnel era encantado, não temos cura nenhuma”, disse o médico.

O rei gritou: “A cura por uma recompensa! Caso uma mulher, ofereço meu filho para um casamento e metade do meu reino, caso um homem.”

Quando Nella ouviu a notícia, cobriu seu rosto com um xale e correu em direção ao castelo, para ver o seu amado ao menos mais uma vez, antes dele morrer. Ela já estava no meio de uma floresta quando a noite obscureceu o caminho que escolheu, então escalou uma árvore para abrigar-se e esperar pela luz do dia.

TrollsAcontece que a árvore que ela escolheu era perto da casa de um ogro. O ogro, tendo esmaecido as lâmpadas, estava conversando com sua esposa. As janelas estavam abertas e Nella ouviu a ogra dizer: “Você me diga, querido cabeludo, que notícias você ouviu hoje?”

“O mundo está uma bagunça”, o ogro disse, “e essa é a prova: o filho do rei construiu um tubo de cristal que ele usou para ver o seu amor. Mas alguém destruiu o túnel. Agora ele se foi. Ele certamente vai sangrar até a morte. Há apenas uma cura que, colocada sobre sua pele sangrenta, vai salvar o príncipe e trazê-lo de volta à vida. “

“Faça-me o favor de dizer o que é, meu querido”, pediu a esposa.

“Você não vai querer saber”, disse o ogro. “Pois bem, a cura é a massa da nossa própria gordura. Não diga a ninguém.”

“Oh, eu juro. Eu não direi uma única palavra sobre isso.”

Tarde demais, pois Nella, em sua árvore, tinha ouvido claramente e, juntando toda a sua coragem, pulou de volta ao chão da floresta e correu para a casa do ogro, batendo na porta.

“Senhor e senhora, deixe-me entrar. Misericórdia, por favor. Estou com fome e eu estou longe de casa. Peço-lhes de joelhos.”

A ogra não teve paciência e mandou a menina para longe, mas o ogro, que desejava uma refeição de carne cristã, disse a esposa:

“Deixe-a que fique. Se a deixarmos na floresta, vai ser comida por uma besta. Vamos mantê-la aqui e, amanhã, vamos ter uma festa.”

E esse foi o plano deles. Mas Nella, que tinha outros planos, pegou uma faca e massacrou-os, uma vez que estavam adormecidos em sua cama.

Ela colocou a gordura dentro de um frasco e partiu para a corte.

Ela esfregou a gordura sobre as feridas do príncipe e elas fecharam na mesma hora. Assim, com o príncipe curado, o rei disse: “Você tem que tomá-la como sua noiva.”

“Oh, não”, exclamou o príncipe, vendo a garota tomada de sujeira “Não ela. Meu coração pertence a outra pessoa. Ninguém pode tomar o seu lugar.”

“O que tem essa garota?”, perguntou Nella. “Ela só lhe causou danos, de qualquer maneira.”

“Não ela, mas suas duas irmãs eram as vilãs. E elas vão pagar por isso!”

Então Nella pediu por água e, assim que se lavou, toda a sujeira foi embora. Onde outrora havia uma miserável esfarrapada, estava agora a alegria do coração do príncipe.

Assim, ele a tomou por esposa. Suas irmãs logo souberam do fato. Foram condenadas, então, a serem queimadas em um forno, um destino que só Nella tinha o direito de anular.”

Fonte

Laís

5 comentários em “Prado Verde, de Giambattista Basile

    1. Oi, Lilly! Qualquer conto do Giambattista é lindo, né? Nós já conhecíamos, mas ainda não postamos ele no blog… Fica atenta, que qualquer hora dessas a gente faz um post pra esse, hein! Beijos!

  1. Nossa, essa é original mesmo! Sexo antes do casamento? Em tempos medievais? Sem nenhuma punição mais séria para a não-virgem? Basille abalando as estruturas de novo! (Porque aquela Bela Adormecida, também é muito transgressora para época)

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